quinta-feira, 16 de junho de 2011

Livros: "Jogos Vorazes" - Suzanne Collins

Jogos Vorazes
    Entre batalhas, emoções e hipocrisia. E má escrita.

    Não é nada do esperado. Nenhuma resenha pode preparar uma pessoa para o que irá encontrar nessa obra, mas vou fazer o possível...

    Suzanne Collins me surpreendeu. No bom e mal sentido. Mas o que ninguém pode dizer é que seu livro, Jogos Vorazes, não é marcante.  É, sim, intenso, duvidoso, e enigmático. O livro de 397 páginas e editado pela editora Rocco realmente nos faz refletir durante vários dias após a leitura, como muitas resenhas já dizem. Mas discordo de muita gente que deu 5 estrerlinhas para esse livro, pois há alguns problemas na linguagem e com clichês (muito raros, mas encontrados). Fico com quatro estrelas, pois. Mesmo assim, não posso negar que há tempos não encontro um livro com tais qualidades de Jogos Vorazes.
    A história se passa num futuro em que o mundo humano como conhecemos foi destruído por uma série de causas naturais (primeiro – e um dos únicos – clichê); e então o que restou de nós foi obrigado a se reerguer do zero. Na visão de Collins, os seres humanos tentariam, em uma situação como essa, disputar o poder do que restava do mundo. E, quando um deles enfim conseguiu exercer poder sobre outros, surgiu Panem, o único país que conseguiu se fazer existir depois do caos. O lugar é constituído de 12 distritos governados pela maldosa e hipócrita Capital, que exerce um poder ditatorial sobre tais distritos. Para manter a discórdia entre os distritos e lembrá-los da soberania da Capital, evitando possíveis rebeliões, foi criado os Jogos Vorazes. Neles, dois jovens entre 12 a 18 anos de cada distrito são sorteados para participar. Eles são obrigados então a lutarem uns contra os outros até a morte num ambiente hostil. Como uma cassada. O último que ficar de pé vence. Tudo isso é filmado e transmitido por toda Panem, mas apenas a Capital se diverte assistindo.
    Diretamente do distrito 12, o mais miserável de todos, conhecemos Katniss, que se voluntaria para ir aos Jogos no lugar de sua irmã, a pequena Prim de 12 aninhos. E então tudo começa...
    Katniss é uma personagem inesperada e muito bem feita. O que mais senti no livro foi sua personalidade, que afeta todo o decorrer da obra. Devido à vida que levou, tendo que cuidar da irmã pequena e da mãe com depressão após a morte do pai, desde seus 11 anos, ela é uma pessoa fria e carrancuda. Além disso, teve, como todas as pessoas dos distritos, que aguentar muita coisa calada, o que a faz ter muita raiva contida. Apesar de toda essa carga negativa, Katniss consegue, com poucas pessoas, ser carinhosa e amorosa. E foi esse escasso amor que a levou a tomar a decisão de ir aos Jogos Vorazes no lugar de Prim (meio que se sacrificar por ela). E foi sua frieza e raiva que a levou a falar tão pouco com as pessoas, deixando um suspense a cerca dos outros personagens, de quem não temos muitas informações no início por conta dos diálogos curtos. Para dizer a verdade não entendi o Peeta até agora. Quem sabe nos próximos livros.
    A obra, ao meu ver, é dividida em quatro partes: uma boa, uma média, uma muito boa e uma chata, respectivamente:
 x O início é uma apresentação muito rápida do contexto, portanto apenas boa. 
 x As preparações para os Jogos me fizeram sentir nojo da hipócrita capital e do desinteresse de Katniss com esse fato. Então a preparação é a parte média.
 x Já nos Jogos em si, o começo é um pouco chato por conta da frieza de Katniss, motivo pelo qual não sentimos tanto as mortes. Mas logo em seguida ela fica se apega a algumas pessoas e o livro se desenrola muito, muito bem. Comessamos a ver então como nada daquilo é justo e o quão cruel é o que estão obrigando uns aos outros a fazer. Há partes tristes e emocionantes, ao mesmo tempo em que existem cenas envolventes e até românticas. 
 x E o final deixou algo a desejar, o que, espero eu, será resolvido no próximo livro. É como se faltasse aquele capítulo de pós clímax, o desfecho da obra. Seria uma estratégia da autora para nos deixar curiosos com o próximo livro, mas imaginem um livro inteiro falando só da parte mais sem emoção da obra, o desfecho? Isso não me deixou curiosa com a sequência. Portanto, o final é a parte ruim.
Vale lembrar o caráter de reality show dos Jogos Vorazes e a preocupação dos participantes em agradar o público (para conseguir a ajuda de seus patrocinadores). Muita história inventada (ou não), muitas cenas cujo clímax foi ampliado artificialmente. Isso nos faz refletir sobre o quanto do que vemos na TV é realmente real. Aliás, o livro nos faz refletir sobre muitas coisas. Sobre a face do ser humano, sobre qualidades e defeitos, sobre como agimos e porque agimos assim.
    Agora vamos falar das partes ruins. A autora não escreve excepcionalmente bem. A começar pelo fato de que o livro é em primeira pessoa, o que torna o final um tanto previsível. Além disso, Suzanne Collins tem a irritante mania de colocar os verbos no presente (ou foi a tradução, não sei). "Eu corro, eu como, eu faço", ao invés de "Eu corri, eu comi, eu fiz". Não sei por que alguns autores insistem em fazer isso. Não fica bom. Dá a impressão de que os fatos acontecem todo dia, e não que aconteceram apenas uma vez. Como se não bastasse, a escritora apelou muito no final. Algo como “veja nos próximos capítulos / veja no próximo livro”. Além de ser exagerado, não deu certo. O final passou a impressão de que deixou a desejar, e não de curiosidade, como já disse..
    Em suma, a obra vale a pena ser lida, é bem viciante e envolvente. Para quem gosta de personagens bem feitos e/ou misteriosos, é um ótimo livro. Mas não esperem algo nota 10, pois existem partes chatas e linguagem mal feita.
   Nota 1: Peeta é um mala sem alça metrosexual.
   Nota 2: A publicidade da obra é terrível! Quem em sã consciência coloca um comentário de Stephenie Meyer num livro desses? Nada contra ela, mas não é de se esperar que uma escritora de livros de vampiro vá comentar em um livro futurista. E aquela capa? Que vergonha! Além das excelentes frases de efeito, não é? “Matar ou morrer, não há escolha” Óóó, choquei.

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