segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livros: "Especiais" - Scott Westerfeld

                                                                                                  Nada Especial.
Especiais
    Acho que "especiais" não é exatamente o nome correto para esse livro. Muito pelo contrário. Acho que "Sem graça" ou "Comum" seriam nomes mais apropriados. Para dizer a verdade, esse livro foi a maior decepção da minha vida. Depois de ler o muito bom "Feios" e o excelente "Perfeitos", podia jurar que "Especiais" seria perfeito, que a tendência da série era ficar cada vez melhor. Entretanto, Scott Westerfeld fez a pior conclusão de saga dentre todas que já li, num livro que eu esperava ser o melhor romance do mundo. Decepcionante. Mas nem tudo foi horrível: a crítica social, em "Especiais", continua impecável. Apesar de chata, a obra me marcou profundamente e me deu uma lição de vida, nunca verei as coisas da mesma forma.

**Para quem não leu "Feios" e nem "Perfeitos", não continuem lendo, pois contém spoilers**

    Nesse livro, Tally é uma especial. Tem reflexos excelentes, um corpo leve e resistente e apetrechos imbutidos na pele. Ela agora vê o mundo com detalhes surpreendentes, tudo é lindo, e ela tem a vida que queria ao lado dos amigos especiais e vivendo no mato. Mas nem tudo são flores: a menina tem ataques de agressividade, sua nova mente não a permite escolher de que lado ficar (como se já estivesse imbutido na mente que ela deveria ser contra a revolução dos enfumaçados, embora ela sempre tivesse sido a favor). Enquanto isso, a revolução de Fumaça explode. Mas não se animem: a tão esperada revolução quase não é mostrada. O narrador parece sempre querer seguir Tally, a qual nunca está onde a ação acontece, o que não é típico da personagem. Mas esse livro foi atípico.
    Falemos da única qualidade do livro: a crítica. Finalmente entendi a lógica dos três livros. Em cada um, Westerfeld critica uma classe social presente em todas as sociedades. Fiquei desnorteada com isso. Scott me fez ver que, não importa que tipo de sociedade alguém viva (perfeita, contemporânea, feudalista, moderna, antiga, egípsia, chinesa, indiana, africana), sempre existirá a mesma divisão social: feios, perfeitos e especiais. Na nossa sociedade, eles são os pobres, classe média e ricos. Na época moderna, seriam os camponeses e burguesia (esta segunda como enfumaçados), a nobreza e o rei. Na idade média, os camponeses, vassalos e clero. Na sociedade indiana isso se identifica no sistema de castas. É como se sempre houvesse um grupo despresado (mas sendo o único que percebe como está o mundo de fato), um grupo que manda mas é burro e alienado, e um grupo que é encarregado de manter o sistema como está. Até que o grupo despresado fica entendido o suficiente para se revoltar. Mesmo na sociedade perfeita e igualitária de Tally isso acontece. Não tinha percebido isso no mundo antes de ler a série Feios.
    Mas essa não foi a única crítrica do autor. A ideia da contrarrevolução apresentada no final foi sensacional. Fiquei um pouco com peninha da Dra. Cable no fim, mas valeu a mensagem. É como se sempre fosse necessário as revoluções terem uma contrarrevolução para equilibrar e evitar exageiros, radicalismo. Genial.
   Há, também, a percepção de como somos influênciados pela sociedade em que vivemos. Nesse livro, então, isso fica mais evidente. Na história, eles são viciados em cirurgia, fazem isso da mesma forma que nós penteamos o cabelo todo dia. Até os perfeitos que não eram mais perfeitos continuaram com esse péssimo hábito. Medo do cara que fez a pele mudar de branco para negro de acordo com a batida da música.
    Falarei agora da parte que não gostei. A começar pelas novas gírias! Vamos comparar? Borbulhante = Sagaz. Perfeitos = Avoados. Feios = Medíocres. O pior é que Tally faz questão de acumular as gírias dos perfeitos e dos especiais, mesmo depois que volta a ser feia. "Você ia adorar, Zane, é muito sagaz, que é igual a ser borbulhante, só que melhor". Não aguento! Vemos outro problema similar a esse no livro: o fato de os protagonistas terem 16 anos. Na sociedade de Tally, não importa a sua idade, e sim o seu status de rosto. Ficou um pouco ridículo jogar tamanha responsabilidade em personagens tão jovens. O resultado são adolescentes usando gírias durante um cena super tensa e séria. Soou meio infantil.

**Para que não leu ESPECIAIS propriamente dito, não leia o resto da resenha, pois não conseguirei expressar minha frustração sem fazer spoilers**

Há um detalhezinho no livro que o fez ser insuportável. Detalhe esse mais forte do que quaquer outro problema do livro. Tally é especial durante o enredo todo! Se não fosse por esse detalhe, eu teria amado o livro. Acontece que, como especial, Tally não pensa direito. Um livro cuja protagonista é um robô projetado para não querer machucar as pessoas, mas fazer se for necessário (ou seja, para machucar as pessoas) é um saco! Poxa, havia uma protagonista, mas ela não estava lá, apesar de ser usado o nome dela o tempo todo. A Tally de verdade teria ido lutar com os enfumaçados, e não passar o livro inteiro travando uma batalha com sigo mesma. E houve momentos em que a transformação dela podia ter ocorrido, mas Westerfeld preferia adiar. Foi maçante, frustrante ler toda vez que isso acontecia. E, quando chegou a parte de Diego, pensei: "não acredito que estava perdendo isso!". Queria ter visto a revolução, sabido como aconteceu. E quando Tally enfim resolve voltar à mente feia, no finalzinho do livro, ela vence a Dra. Cable e se torna a heroína da revolução que ela nem participou! E o pior é que ninguém nem soube que foi ela quem impediu a guerra, que foi ela a heroína. Houve uma falha de comunicação terrível no final, bem como em todo o livro. Tally parece que fugia das pessoas! Até de defunto ela fugiu! Pobre Zane... Ah, aí está outro problema: a falta de emoções. O sujeito morre, ela da um tchau e vai embora. Nem estava super apaixonada e louca por ele segundos antes, e depois nem se despede direito? Que história é essa? E no final? Ela ficou com o David assim, como se seu amor não tivesse morrido pouco antes? Ou houve apenas uma reconciliação entre os dois para talvez uma futura volta dos ex-namorados? Não entendi esse final. 
    Esse falta de emoções de Tally se exemplifica também quando ela passa três semanas em isolamento completo em uma cela, e o autor apenas indica rapidamente que ela se sentiu solitária. Não senti realmente a loucura dela, foi monótono. Essa parte ficou muito mal explicada e corrida. Devia ter havido pelo menos um capítulo para contar como foi o tão solitário isolamento de Tally. Capítulos como este seriam mais necessários do que outros que Scott fez, como a segunda parte inteira do livro. Alguém notou que a segunda parte foi plágio de quando Tally foi para fumaça, no primeiro livro? Muito desnecessario! O escritor se auto-plagiou! Ler todas aquelas descrições de mato desnecessárias mais uma vez foi um saco, precisei de muita paciência. Antes fosse tudo de novo com a Tally indo para Nova Fumaça, mas esse robô com o nome da protagonista que não fala coisa com coisa no lugar dela? Foi maçante! Irritante, revoltante!
    Em suma, a critica social me marcou muito, vou levar o que aprendi até o fim da vida. Mas isso não muda o fato de que o livro é chato. Quase inacreditável acreditar que "Especiais" seja da mesma autoria do escritor do brilhante "Perfeitos"...

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