quinta-feira, 10 de março de 2011

Livros: Pequena Abelha - Chris Cleave

Pequena Abelha
O Mundo Oculto
    Não entendo porque a divulguação deste livro nos pede para não revelar o enredo, dizendo que "é uma história especial". Enquanto histórias como Pequena Abelha continuarem a serm tratadas como "especiais", continuaremos cegos para o quanto essa realidade é comum. Mas, como não quero ser alvo de repreenções por revelar o enredo, também vou ocultar alguns fatos. O livro do intenso Chris Cleave tem 267 páginas e foi editado pela Intrínceca. Trata de uma realidade oculta pela mídia, de um mundo de horror escondido debaixo de nossos olhos.
    Do enredo, direi apenas: o assunto é África, e vemos as diferenças de realidade entre o mundo africano e o europeu. É centrado na vida de duas mulheres, uma africana e uma britânica, que, pelo acaso, se encontram.
    O que achei muito interessante foi o fato de o narrador mudar a cada capítulo, ora sendo Abelinha, a africana, ora sendo Sarah, a britânica, quem narra. Isso nos possibilita ver a diferença de mentalidade entre quem mora em cada "mundo" (digo mundo, pois a diferença de realidades é tão intensa, que chega a ser duvidável que as duas realidades pertençam ao mesmo planeta). O livro nos faz acordar um pouco para essa realidade tão pouco mencionada nos meios de comunicação, expondo muitas verdades, mas não apresenta soluções para aquele horror: me sinto impotente diante de tudo aquilo.
Mas o livro não é apenas expositivo. Cleave nos faz refletir sobre muita coisa. Fala muito sobre valores, diferenças de costumes entre os povos. Além disso, me fez ver o quão o conceito de felicidade é subjetivo. Abelinha é mais feliz que Sarah. Como uma menina nigeriana que sofreu tanto quanto ela pode ser tão feliz? Já Sarah não sabe de onde tira problemas para reclamar, mesmo em sua vidinha confortável. O que isso quer dizer? Que a vida de Abelinha é mais simples e por isso ela é mais feliz, ou que a felicidade só depende de nós mesmos, e não do meio em que vivemos? Acho que Abelinha sabe lidar melhor com as pessoas, Sarah não sabe, tanto que sentiu necessidade de trair o marido, e não educa direito seu filho. Talvez a felicidade esteja nisso, em aprender a lidar com as pessoas, independente do contexto em que se vive. Depois de ler este romance, estou passando a acreditar que sim. Saber lidar com as pessoas é igual a conseguir o que quer (ajuda, facilidades e aprendizado). Além disso tudo, percebi que Abelinha é muito sábia, mas tão inoscente! Inocência e sabedoria tem algo a ver? É possível que, sem estar corrompida com os costumes e dogmas, uma pessoa tenha a mente mais limpa, e, portanto, seja mais sábia. Talvez.
    O fato de o autor conseguir despertar todos esses sentimentos em mim já lhe garante minha admiração. Fiquei com a impressão de que ele é muito inteligente e que pesquisa muito para escrever (como já disse, essa realidade não é muito falada na mídia). Vale mais do que a pena para quem aguenta um choque de realidade muito intenso de um um mundo cruel escondido sob o nosso.